domingo, 13 de abril de 2014

Ele, o Futuro



O futuro.
Cada linha de expressão que surgirá, estradas que nos levam ao passado, sumirão.
Cada frustração e momentos felizes que nos serão permitidos ou impostos sentir, será pura escolha.
Os valores que irão esvaecer e aqueles que irão aparecer, como gotas de tinta vermelha em um oceano branco, que impacta no começo, mas que aos poucos se misturam, tornando-se um homogêneo véu rosado.
Cada toque, no qual se abrirá um mundo em nossas mãos. Um quadro vivo.
Cada batida sintética. A música sintetizada. Artificial.
Os olhares escondidos por vidros dimensionais. A cada olhar, uma questão. Será que ela está olhando pra mim ou pra outro mundo? Ela me vê?
Fugas planejadas, conhecidas. Drogas permitidas.
Cada mão que, antes se davam, agora se movimentam automáticas e programadas.
Sonhos comprados. Realidade ofuscada.
Cada movimento simétrico, não saberemos mais o que é o imprevisto, o prazer de tentar.
Pensamentos complexos, difíceis, deixados para mentes que pensam melhor. Mentes evoluídas. Mentes essas que nossa mente criou.
Todo nosso esforço aprisionado num cartão de plástico, com uma tarja preta, que indica perigo, e que tapa nossos olhos.
Cada teoria prática. Cada mito verídico.
Veículos e meios cada vez mais independentes, nos deixando mais dependentes.
Comodidade comprada.
Felicidade comprada.
Havia no passado quem diria que dinheiro não traz felicidade. Nesse novo mundo, felicidade não traz dinheiro. O que realmente, no fim, importa.
Aprender com a dor não será mais possível. Cada remédio para cada dor. A dor do amor.
Cada família perdida. Cada indivíduo por si e cada sociedade por ele.
Cada história que será deturpada. Cada mentira que será venerada.
Instrumentos fazendo o que desde o princípio foi aprendido e encarregado a nós. Pra que? Foi nós que fizemos. Foi nosso esforço e essa será a nossa recompensa.
Cada notícia que será transmitida. Cada morte que essa transmissão causará. Insetos. Parasitas. Humanos.
Cada religião falida, um mundo novo. O mundo. Mundo. Planeta Terra. Homem.
Ideias como amor, união, se perderão. Afinal, tais sentimentos causam violência, traição, tristeza. Guerras.
Cada individuo estará em sua perfeita individualidade.
Todos por uma só ideologia. A de não tê-la.
Cada clássico que não será ensinado. Eles falam sobre amor. Consequentemente, sobre dor. Lembre-se, não existirá mais dor. Não existirá mais erros. Errar não é humano.
O cérebro será o novo coração.
Comunidade, identidade e estabilidade.
Ter sentimentos nos tornam instáveis. Perigo para esse novo mundo. O controle está no controle.
Cada humano carregará em si a prosperidade, a juventude, o vigor.
A morte será energia para os vivos. Eles não vão chorar mais.
A Utopia é o que você imaginou. Isso a um minuto atrás. Você vive nela, agora. E sempre.





*Texto escrito com auxílio da obra Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, de 1932.